Zona de Azar Brasil – Ecossistema Brasileiro de Inovação: Investimentos em SporTechs
Brasil.- 12 de Julho de 2024 www.zonadeazar.com No episódio passado, “Mapeando o Ecossistema de SporTechs no Brasil,” eu falei sobre todos os atores da indústria e quem são eles, citei que as startups eram o coração da inovação. Hoje, vamos falar do pulmão que faz esse coração bater: os investidores. Assim como os pulmões dão vida ao corpo, os investidores muitas vezes dão vida a um projeto, fornecendo as condições necessárias para que ele sobreviva até ser lucrativo.
Investir em startups pode ser altamente arriscado e lucrativo. Vamos entender como funciona o investimento em startups, os estágios de investimento, os tipos de rodadas, os investidores envolvidos e quem são os principais atores no Brasil.
O investimento em startups envolve financiar empresas emergentes em troca de participação acionária. Os investidores fornecem capital para o crescimento da startup e esperam obter retornos significativos caso a empresa tenha sucesso.
Estágios de Investimento
Pré-Seed: A startup está começando a desenvolver sua ideia. O financiamento geralmente vem de fontes pessoais, amigos e familiares.
Seed (Semente): A startup já tem um MVP (Produto Mínimo Viável) e está validando seu produto no mercado. Investidores anjo e fundos de seed são comuns nesta etapa.
Series A: A startup validou seu produto e tem uma base de clientes inicial. O financiamento ajuda a expandir a equipe e a base de clientes. Fundos de venture capital começam a investir.
Series B: A startup foca em escalar suas operações. O financiamento é usado para expandir o mercado e melhorar a infraestrutura.
Series C e além: Para startups que alcançaram crescimento significativo e se preparam para uma possível aquisição ou IPO. O capital é usado para grandes expansões.
Tipos de Rodadas de Investimento
Investimento Anjo: Investe capital próprio em startups em estágios iniciais, oferecendo suporte financeiro, mentoria e networking em troca de participação acionária e potencial retorno elevado.
Venture Capital (VC): Fundos de Venture Capital investem em startups em diferentes estágios de crescimento, esperando altos retornos.
Corporate Venture Capital (CVC): Grandes empresas que investem em startups para acessar novas tecnologias e inovações.
Crowdfunding: Levantamento de capital através de pequenas contribuições de muitas pessoas, geralmente via plataformas online.
Exemplo Hipotético
Vamos considerar uma startup em estágio inicial avaliada em R$1 milhão. Um investidor anjo decide investir R$150 mil, adquirindo 15% da empresa. Três anos depois, a empresa atinge um valor de mercado de R$25 milhões. A participação de 15% do investidor agora vale R$3,75 milhões, representando um retorno de 25 vezes o investimento inicial. Essa dinâmica de retorno também se aplica às SAFs (clubes que viram empresas e recebem investimentos).
Se você ficou interessado nesse potencial de retorno e tem uma ideia bacana e coragem para empreender (o que não é fácil, reconheço), convido você a retornar ao primeiro episódio. Lá, eu conto como é o começo da jornada para chegar nisso e as ferramentas que usei para captar mais de R$2 milhões: “SporTechs – O que são, de onde vêm e o que resolvem? Descubra aqui no MKT Esportivo.“
Vale mencionar que cada rodada de investimento possui um valor específico e cada tipo de investidor entra em um determinado estágio com um tamanho de cheque adequado. Existem fundos de investimento de todos os tamanhos. Recomendo que você pesquise mais sobre o assunto, pois há muitas fontes de informação disponíveis.
Pronto, existem muitas outras coisas sobre o assunto, mas como esta coluna não é uma aula, quis passar o mínimo necessário para que você possa tirar insights dos próximos passos e fazer associações. Assumindo que temos leitores de todos os tipos, alguns mais familiarizados com o tema e outros não, agora me sinto confortável para avançarmos e falarmos sobre…
Além de fundador da Esporte Educa, sou embaixador SporTech do Arena Hub e tenho o compromisso de compartilhar o meu conhecimento com o mercado. Também, como colunista aqui do MKT Esportivo, meu objetivo é democratizar essa informação.
O Cenário de Investimento em Startups de Esporte no Brasil e no Mundo
Olhando para um cenário global, o Brasil ainda está longe de alcançar o mesmo nível de veículos de investimento e iniciativas ligadas à inovação presentes em outros países. No entanto, como dizem alguns futuristas, “se quer prever o que vai acontecer no mercado brasileiro, é só olhar para fora”. Se isso se concretizar, teremos um cenário mais próspero do que o que escrevi até agora ao longo destas semanas.
Fundos de Investimento no Brasil específicos do Esporte
OTF Capital
OTF, grupo que também escreve colunas mensais aqui no MKT Esportivo, é um fundo de venture capital que foca em investir em startups de tecnologia esportiva e outras indústrias emergentes. Eles procuram startups com potencial para transformar seus respectivos mercados e têm interesse em diversas fases de investimento, desde o estágio inicial até a expansão.
Sports Angels
É um grupo de investidores anjo especializado em startups do setor esportivo. Composto por ex-atletas e profissionais do esporte, oferece não apenas capital, mas também conhecimento profundo do mercado e uma vasta rede de contatos.
Bossa Nova Investimentos
É um micro-venture capital que lançou um fundo específico para SportsTech com um capital de R$ 5 milhões. O fundo é focado em startups em estágio muito inicial nas áreas de esporte e bem-estar, com investimentos que variam de R$100 mil a R$300 mil. Entre suas investidas estão startups como Fan Base e RadarFit.
GO4IT Capital
É uma empresa de venture capital, fundada por Cesar Villares e Marc Lemann, focada em startups inovadoras nos setores de esportes, mídia digital e bem-estar. Pertencente à 4M Holding, uma firma global de investimentos, a GO4IT busca criar negócios globais impactantes, oferecendo suporte financeiro e estratégico às suas investidas. Em seu portfólio, destacam-se empresas como Rei do Pitaco, Final Level, Strava, DAZN, Greenfly, Sorare, WSC Sports e G2 Esports.
Comparação Global e Nacional
Fundos de Investimento que direcionam sua verba para o Esporte
Global: Existem mais de 111 fundos de investimento que direcionam verba ao esporte. Nos últimos 12 meses, 31 novos fundos foram anunciados, com mais de $4 bilhões disponíveis para investimentos. Parte desse capital já foi investido, mas a maior parte ainda está para entrar no mercado;
Brasil: Temos um total de 10 boas opções mapeadas para investimentos em startups esportivas no Brasil ao qual tenho conhecimento de aportes relevantes, com certeza devem existir mais. Destes, apenas 3 fundos possuem verbas exclusivas para o esporte: OTF Capital, Sports Angels,GO4IT e Bossa Nova com sua vertical de Esportes. Vale dizer que existem fundos de investimento denominados “agnósticos”, aqueles que investem em vários setores, incluindo SporTechs. Embora não sejam focados exclusivamente no esporte ou tenham uma vertical específica como a Bossa Nova, esses fundos também fazem investimentos em empresas de esporte brasileiras e por ser tão abrangente, fica difícil de mapear.
Outros Fundos de Investimento Brasileiros que investem no Esporte
Verve Capital
É uma firma de micro-VC com sede em São Paulo e Miami, fundada por Marcelo Franco. A empresa se especializa em ser o primeiro cheque para startups em estágio inicial na América Latina, fornecendo suporte financeiro e estratégico para ajudar os fundadores a alcançarem um crescimento significativo. Embora seja um fundo agnóstico, investindo em diversas indústrias, a Verve é um dos fundos brasileiros mais ativos no setor de esportes. Entre seus investimentos notáveis estão a Sportech Rei do Pitaco, de maior sucesso do Brasil, além da Greenfly, de LeBron James, Religion Of Sports de Tom Brady, e a minha startup, a Esporte Educa.
DOMO Invest
É uma gestora de venture capital brasileira fundada por Marcello Gonçalves e Rodrigo Borges. A empresa se destaca pelo foco em startups de tecnologia, inovação e sustentabilidade. A DOMO investe em diversas empresas promissoras, abrangendo setores como Fintech, Proptech, Healthtech e Climate Tech. Além de fornecer capital, a DOMO oferece suporte estratégico e operacional para fomentar o crescimento e a escalabilidade das startups em seu portfólio. No setor de esportes, a DOMO Invest possui investimentos notáveis como Fan Base, RadarFIT e Semexe.
Essas empresas investidas representam as apostas de fundos agnósticos como Verve e Domo em soluções inovadoras que visam transformar o mercado esportivo por meio da tecnologia e inovação.
Redes de Networking
Global: Mais de 17 redes de networking específicas para SportsTech;
Brasil: Poucas redes, destacando-se o Brazil Sportechs e a Sportsnetwork.
Programas de Aceleração
Global: 33 programas de aceleração para startups esportivas;
Brasil: Apenas o Podium Labs, promovido pelo Arena Hub, que está em sua segunda edição. Minha startup, a Esporte Educa, foi uma das 5 selecionadas na primeira edição do programa.
Iniciativas de Inovação
Global: 77 iniciativas de inovação vindas de entidades esportivas;
Brasil: Poucas iniciativas específicas, com potencial para crescimento, com destaque para o Arena Hub e a Sportheca em São Paulo, e o FootHub no Rio Grande do Sul, cada um com uma proposta diferente.
Corporate Venture Capitals (CVCs)
Os CVCs são veículos de investimento criados por grandes corporações para investir em startups que tenham sinergia com suas operações principais. Empresas de esporte, assim como aquelas de outros setores que querem ingressar na indústria esportiva, utilizam os CVCs para ganhar acesso a novas tecnologias e inovações que possam complementar seus negócios. Esses investimentos ajudam a diversificar o portfólio da empresa e a promover a inovação dentro do setor.
CVCs Ativos no Esporte Brasil:
TELLESCOM: Investiu na minha startup, a Esporte Educa, e na Nsports;
Grupo SBF (Centauro): Investe na NWB, OneFan e FitDance;
Ânima Educação: Embora não atue diretamente no esporte, é um exemplo de corporação que investe em inovação e é dona de diversas instituições de ensino. A Ânima Educação é gerida pela VALETEC, uma das gestoras mais competentes do país, que também administra a TELLESCOM. Empresas como Locaweb e Eurofarma confiam na VALETEC para gerenciar seus investimentos.
Crowdfunding
Outra alternativa importante é o crowdfunding, apelidado carinhosamente no Brasil de “Vaquinha”. Este método permite que startups levantem capital através de pequenas contribuições de um grande número de pessoas, geralmente via plataformas online. O crowdfunding pode ser recompensador – no qual os investidores recebem produtos ou serviços em troca de suas contribuições, ou baseado em equity, no qual os investidores recebem participação acionária na empresa. Esse modelo democratiza o acesso ao financiamento, permitindo que startups obtenham recursos diretamente do público.
O brasileiro ama esporte e tem uma paixão que ultrapassa os 4Ps do marketing, incorporando um quinto P: Paixão. Essa característica cultural torna o crowdfunding uma alternativa muito interessante para startups esportivas, pois permite que os fãs contribuam diretamente para o sucesso de iniciativas inovadoras.
Algumas das principais plataformas de crowdfunding no Brasil são:
Catarse: A primeira plataforma de crowdfunding no Brasil, focada em projetos criativos e inovadores;
EqSeed: Focada em equity crowdfunding para startups em diversos setores, permitindo que investidores se tornem acionistas das empresas que apoiam;
CapTable: Especializada em equity crowdfunding, conectando startups promissoras com investidores interessados em se tornarem sócios.
Perspectiva positiva para Sportechs (2025-2030)
Como discutimos nos episódios anteriores, o cenário para startups no esporte está cada vez mais promissor. Prevemos que a partir de 2025, as Sportechs serão uma das áreas de maior interesse no mercado de investimentos de risco e startups. Isso se deve a vários fatores, incluindo a crescente digitalização da indústria esportiva, a profissionalização do mercado com a adoção das SAFs e a entrada de investidores profissionais na gestão dos clubes. Se você se interessa por esse tema, recomendo ler as colunas da OTF aqui no MKT Esportivo.
Além disso, o atual momento do Venture Capital no Brasil contribui para essa tendência. Vamos explorar a história do Venture Capital no Brasil para entender por que as Sportechs serão o destaque na segunda metade do terceiro ciclo (2025-2030).
Ciclos do Venture Capital no Brasil:
Primeiro Ciclo (2000-2010): Investidores institucionais começaram a investir em startups de tecnologia, apesar das dificuldades burocráticas e do desinteresse inicial dos investidores brasileiros.
Segundo Ciclo (2010-2020): Emergiram unicórnios brasileiros, hubs de inovação e programas de corporate venture capital. Crowdfunding e investidores individuais ganharam força, e eventos de liquidez se tornaram mais frequentes.
Terceiro Ciclo (2020-presente): Representando a primeira metade do terceiro ciclo, que vai até 2030, é um período marcado por uma forte cultura empreendedora, aumento de second time founders (pessoas que já tiveram experiência em outro negócio, vendendo ou falindo), e a disponibilidade de escolas de startup, mentores e ferramentas. Houve uma euforia no mercado e disponibilidade de capital abundante, com valuations elevados e rodadas de investimento altíssimas. Segundo o Distrito, até 2021, os investimentos em startups no Brasil cresceram significativamente, atingindo US$ 9,4 bilhões, impulsionados por fatores como taxas de juros e eventos geopolíticos. No entanto, a pandemia, a inflação e a instabilidade global reduziram a atratividade do venture capital, levando a uma correção no mercado. Isso resultou em cortes nos valuations e demissões em massa para estender a sustentabilidade financeira. Surgiram os inside rounds, com fundos já investidos realizando novas rodadas de financiamento. Atualmente, startups precisam apresentar valuations realistas para atrair investidores, enfrentando desafios como gerar confiança e se destacar em um mercado mais competitivo.
Falando em competitividade de mercado, é aí que surge a oportunidade para as startups de esporte. Enquanto há quase 1.500 startups em setores como fintech e healthtech, tentando resolver uma variedade de problemas. No esporte, o último mapeamento mostrou apenas 135 startups. As Sportechs, com seu foco em inovação e tecnologia aplicada ao esporte, têm uma posição única para capitalizar essa nova onda de investimentos, especialmente à medida que o mercado busca soluções diferenciadas e de alto impacto.
Além disso, o esporte não só é uma das maiores áreas de transformação social, mas também um dos maiores mercados globais, com um enorme potencial de crescimento e desenvolvimento.
Setores preferidos para investimento até o primeiro semestre de 2021 (Distrito/Reprodução)
Como podemos ver acima, a maior parte do volume de capital foi direcionada para setores como fintech, proptech, retail tech, healthtech e educação – área na qual a minha startup, Esporte Educa, se concentra. O capital abundante injetado no mercado permitiu que essas indústrias desenvolvessem soluções para quase todos os problemas relevantes, muitas vezes resultando em vencedores de mercado, como o iFood, que dominou a competição a ponto de a própria Uber descontinuar o Uber Eats no Brasil. Isso não significa que todos os problemas sociais ou mercadológicos do país foram resolvidos, mas sim que existem soluções bem capitalizadas liderando a maioria desses esforços.
Por outro lado, o esporte é uma indústria relativamente nova, mas já demonstra maturidade. Além de ser uma das maiores áreas de transformação social, o esporte é também um dos maiores mercados globais; como diria Gustavo Hazan, se fosse um país, estaria entre as sete ou oito maiores economias do mundo. A diversificação dos investidores que antes focavam em outros setores, aliada à profissionalização e digitalização do mercado esportivo, indica um momento promissor para quem deseja empreender com tecnologia esportiva no Brasil.
Conclusão
O Brasil tem a oportunidade de se inspirar no que está acontecendo no exterior para fomentar um ecossistema mais robusto de inovação e investimento em SportsTech. A tendência global mostra um crescimento significativo e diversificação nas formas de apoio às startups esportivas, e o Brasil pode seguir esse caminho para se tornar um player relevante no cenário mundial.
O cenário global de SportsTech é empolgante e repleto de oportunidades. Se o Brasil seguir as tendências internacionais, poderemos ver um aumento significativo no número de fundos de investimento, redes de networking e programas de aceleração, criando um ambiente mais propício para o crescimento e inovação das startups esportivas no país.
E esse é o penúltimo episódio da nossa série especial. Ao longo das últimas quatro semanas, você esteve comigo nessa jornada empolgante que é o mundo das startups e inovação. Para finalizar, na próxima semana falaremos sobre os 5 casos de sucesso de startups de esporte ou saúde e bem-estar. Até a próxima semana, caro leitor. Te vejo lá! Fuente
Ivan Ballesteros CEO e fundador da Esporte Educa,
Editó: @_fonta www.zonadeazar.com