ABJR: “Educação, Ética e Transparência no Mercado de Apostas no Brasil”

Brasil.- 30 de Abril de 2025 www.zonadeazar.com A regulamentação das apostas no Brasil trouxe à tona um tema essencial — e, por vezes, polêmico: o jogo responsável. Com as novas normas, o governo busca proteger os apostadores no mercado nacional, prevenindo — ou pelo menos reduzindo — os riscos associados à ludopatia entre os brasileiros.
Ludopatia é o termo utilizado para descrever o vício em jogos e/ou apostas on-line. Uma pessoa ludopata enfrenta dificuldades em manter o controle em relação ao jogo, e começa a apostar de forma impulsiva, irracional e, muitas vezes, prejudicial à vida pessoal, financeira e emocional.
Bruno Cabrelon, fundador e presidente da Associação Brasileira de Jogo Responsável (ABRJ) e fundador e CEO da iHunters, conversou com o SBC Notícias Brasil sobre o assunto.
A entrevista abordou questões envolvendo a criação e a atuação da ABJR no mercado brasileiro, os planos da Associação para este e os próximos anos e a regulamentação das apostas no país.
O início da jornada de Cabrelon na indústria
Cabrelon possui experiência em recrutamento, principalmente para empresas de tecnologia, e começou a se aprofundar no mercado de jogos e de apostas on-line em 2022, período em que o setor cresceu significativamente no Brasil.
Desde então, o fundador da ABJR sentiu a necessidade de criar conteúdos voltados para os jogadores que não fossem notícias negativas ou promoções de casas de apostas on-line e de oferecer suporte para aquelas pessoas que precisarem de ajuda.
Logo no início da conversa, Cabrelon destacou que a maioria dos brasileiros ainda não entende como a indústria funciona. Em tom de brincadeira, o fundador disse que a “culpa não é do Tigrinho”, afirmando que muitas pessoas ainda generalizam fatos isolados.
“A culpa é do site ilegal”, disse Cabrelon, explicando que são as plataformas não licenciadas que deixam de pagar os prêmios obtidos na casa.
Objetivos da ABJR
O objetivo da ABJR é conscientizar os brasileiros sobre a operação das empresas autorizadas pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda e que atuam de acordo com a legislação nacional.
Para os primeiros anos de mercado regulamentado, conforme Cabrelon destacou, a ABJR visa atingir o “máximo de pessoas possível”, especialmente pelo campo educacional. A Associação, fundada em dezembro do ano passado, já iniciou as atividades divulgando conteúdos simples e pequenos, permitindo que mais indivíduos tenham acesso à informação.
“Para a gente, que é do setor, é simples, porque a gente vive isso no dia a dia”, disse o fundador, questionando “será que está claro para todos” que o domínio ‘bet.br’ refere-se a sites licenciados.
“A educação é o principal pilar da Associação, e esperamos que, tanto operadores quanto todo o entorno da indústria iGaming, falem sobre o jogo responsável”, afirmou Cabrelon.
Para o fundador da ABJR, não é possível ter um mercado sustentável sem abordar a questão do jogo responsável.
Embora existam mecanismos de bloqueio para impedir que marcas não licenciadas operem sob o domínio ‘.bet.br’, Cabrelon acredita que novas medidas ainda serão implementadas para reforçar a proteção de jogadores.
O fundador destacou que o mercado brasileiro está em fase inicial de desenvolvimento, o que abre espaço para a adoção de ações, a fim de fortalecer a regulamentação e a segurança do setor.
Parcerias & Colaborações
A ABRJ planeja, ainda, estabelecer parcerias com autoridades governamentais e outras empresas e entidades do setor.
Cabrelon destacou, inclusive, que a Associação já está em contato com o time de psicologia e de psiquiatria da Santa Casa para prover atendimento de baixo custo ou gratuito para ludopatas.
A ABJR também possui contato com outros parceiros, a fim de obter informações adicionais relevantes sobre o mercado. Cabrelon reforçou que a ideia da Associação é trazer pessoas de diferentes meios, como compliance e tecnologia, para colaborar com a atuação da ABJR.
“A ideia é prevenção sempre”, afirmou Cabrelon.
Educação, ética e transparência: os três pilares da ABJR
Cabrelon afirmou que a ABJR participou, recentemente, de uma audiência pública, em que sugeriu à SPA novas medidas de proteção. O fundador comentou que em outros países, como Inglaterra e Espanha, familiares do jogador problemático conseguem entrar em contato com a plataforma para alertar sobre os riscos de ludopatia daquele usuário.
Isso poderia ser algo viável para o Brasil, por exemplo, em que o familiar do potencial ludopata deixaria um alerta na plataforma para o perfil do jogador ser analisado e verificado pela empresa. Essa medida poderia evitar casos graves de vício em apostas, uma vez que pessoas próximas, como familiares e amigos, normalmente, conseguem observar antes do próprio apostador que ele está se tornando um dependente em jogos on-line, explicou o fundador.
Cabrelon também reforçou a ideia do cadastro único nacional dos apostadores: “Nada adianta o jogador ser bloqueado porque está jogando há 12 horas seguidas. Ele sai de uma plataforma em que está bloqueado, mas entra em outra para jogar mais 12 horas”.
“Cada operador agindo individualmente não resolve o problema”, afirmou o fundador da ABJR, destacando que é preciso da união de todas as partes envolvidas da indústria, incluindo empresas de pagamento.
Suporte oferecido pela ABJR
Atualmente, a ABJR oferece um canal de atendimento, em que os próprios jogadores podem solicitar ajuda. A ABJR, ao identificar potencial ludopata, encaminha o usuário para associações parceiras, como a organização Jogadores Anônimos “para casos mais sérios”.
“A gente entende que, hoje, ela [a organização] possui capacidade técnica melhor que a da ABJR [para oferecer suporte], mas a nossa ideia é a gente unir forças”, comentou Cabrelon.
Campanhas de conscientização
Em relação às campanhas de conscientização da ABJR, Cabrelon explicou que, no momento, a Associação está desenvolvendo campanhas escritas, focando em distribuir mensagens curtas e de fácil compreensão, tornando-se mais acessível aos brasileiros. A ideia da ABJR é ir além da ludopatia, explicando outras questões importantes e pouco comentadas no mercado – como, por exemplo, a necessidade de declarar Imposto de Renda (IR) ao ganhar uma aposta.
A ABJR visa lançar diferentes guias para orientar os jogadores, informando como jogar com responsabilidade, como realizar gestão de riscos, quais os limites de apostas ao se cadastrar em uma plataforma, entre outros tópicos.
Cabrelon comentou que a ABJR está desenvolvendo uma calculadora financeira, em que os jogadores poderão colocar o valor da renda mensal para serem informados quanto eles podem apostar on-line, seja diariamente, semanalmente, mensalmente ou anualmente, de maneira responsável.
O objetivo dessa ferramenta – e de outras que ainda serão lançadas – é mostrar para o jogador que ele pode se divertir com consciência, sem se prejudicar financeiramente ou emocionalmente.
O fundador da ABJR comentou que, em breve, a Associação também lançará conteúdo em vídeo, além de campanhas escritas e de ferramentas de controle.
Algumas empresas já atuam em colaboração com a ABJR no campo técnico. Cabrelon destacou que tem mantido conversas com as equipes de Compliance de operadores para compreender como esses processos funcionam internamente, quais medidas já foram adotadas para promover boas práticas e, assim, identificar formas de contribuir por meio da atuação da Associação.
“Hoje, a gente não tem nenhum tipo de patrocínio de empresa privada nem de operador. A ideia é que a gente faça algumas parcerias, mas nunca divulgando uma casa de apostas. Não porque não acreditamos no jogo, mas porque precisamos ter isonomia e autonomia para poder falar de melhores práticas – às vezes, isso é de alguma casa e a gente não vai divulgar, mas vamos falar que é uma prática legal”, afirmou Cabrelon.
“O setor precisa se unir” para se tornar cada vez mais um ambiente saudável e sustentável, destacou o fundador da ABJR.
Cabrelon comentou, ainda, que é “desafiador” falar sobre o mercado de apostas on-line, pois é um setor estigmatizado, mas que tem como propósito conscientizar os brasileiros de como a indústria funciona.
“Uma carreira dentro do iGaming não tem nada demais, você não está prejudicando ninguém. A ideia é, justamente, o contrário”, afirmou Cabrelon, destacando que é preferível construir uma trajetória de lucro sustentável ao longo do tempo do que obter ganhos elevados em um curto período, sem consistência.
Expectativas & opiniões
Cabrelon afirmou que a SPA tem feito um “bom trabalho” em relação à regulamentação das apostas no Brasil. Um aspecto positivo, do ponto de vista do fundador da ABJR, foi a SPA ter aberto ao público as audiências públicas realizadas, permitindo que jogadores e outras pessoas da indústria, além de operadores, pudessem participar das reuniões.
No entanto, Cabrelon destacou que ainda é preciso aprimorar a fiscalização e a execução da regulamentação. Conforme ressaltou, é preciso aplicar as leis corretamente, a fim de garantir a operação adequada das empresas – e que atuem com o jogo responsável na prática.
“Humildemente dando uma dica para nossos governantes”, brincou o fundador da ABJR.
Para Cabrelon, as empresas precisam reportar mais – o fundador da ABJR comentou que, assim como há relatórios sobre lavagem de dinheiro, os quais devem ser enviados pelos operadores ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), deveriam ser exigidos relatórios sobre jogo responsável.
Como exemplo, Cabrelon comentou que, para o governo, é fundamental saber quantas pessoas foram bloqueadas no mês e quem são elas. Para o fundador da ABJR, a criação e a execução da lei são igualmente importantes.
“Mas acredito que estamos no caminho certo”, afirmou Cabrelon, acrescentando que a regulamentação também acertou ao incluir uma estrutura dedicada ao jogo responsável.
Para encerrar a conversa com Cabrelon, o SBC Notícias Brasil fez um pedido – qual conselho o fundador da ABJR daria para empresas que estivessem planejando entrar no mercado brasileiro.
“Pensar em longo prazo. Não querer fazer um lucro absurdo e sair, porque isso não é sustentável. É pensar em longo prazo, como os bancos fizeram há muito tempo”, afirmou Cabrelon.
Para contextualizar, o fundador da ABJR disse que os bancos não chegaram ao país, extorquiram os cidadãos e foram embora. No mercado de crédito, por exemplo, Cabrelon comentou que as propagandas começaram a incentivar o “crédito consciente” nos últimos anos. Não é vantajoso para o banco uma pessoa solicitar um empréstimo de alto valor e não conseguir pagar – isso apenas trará dívidas para a instituição financeira.
“É muito melhor a pessoa pegar um pequeno empréstimo, que ela consiga pagar até o final e depois pode pegar outro. Eu vejo muita similaridade com o mercado de apostas. É muito melhor a pessoa jogar R$ 100 por mês por três ou cinco anos, do que a pessoa jogar R$ 10 mil em um mês e nunca mais jogar”, explicou Cabrelon.
Para garantir a longevidade do setor, os operadores precisam ir além do foco exclusivo no lucro. Cabrelon sugeriu a criação de estruturas dedicadas a atender os jogadores, com o objetivo de “fazer algo mais orgânico e sustentável”.
Assim como outras indústrias centenárias, como o setor bancário, o mercado de apostas on-line tem o potencial de se consolidar de forma robusta no Brasil. Em vários países, a indústria iGaming já está bem estabelecida há muitos anos. No entanto, para alcançar esse nível de maturidade, é fundamental adotar uma visão de longo prazo e um compromisso com o desenvolvimento sustentável do mercado.
Editó: @_fonta www.zonadeazar.com